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O Meu País

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De Cor Verde-Esmeralda

Esmeralda acordou triste; não porque o novo dia em cada dia que nasce não fosse propício a sorrir ao sol de Outono numa carícia terna de afago leve mas sentido; não porque à sua volta o céu ainda azul, descoberto de andorinhas de partida, não a deixasse contemplar na hora de ouro à beira-mar, o esconder de um sol que (dizem) nasce todos os dias para todos.

Acordou triste, com um sorriso amargo, com amargura na voz, com névoa no olhar, com desalinho de cabelos, entrelaço de dedos, arrepio de pele e, pior, muito pior que tudo isso, com a alma fria, desalentada, desesperançada, desalinhada das coisas boas que a vida tinha (diziam) ainda para lhe dar.

Confrontada com o baço olhar, com o sorriso sem néctar, sem timbre na voz, sem dedos esguios, pele de inverno chuvoso e alma sem espírito activo, Esmeralda desenhou no espelho as únicas palavras que, naquele momento, conseguiu escrever: “Canteiro agreste”.

Em temos tinha sido um jardim plantado, coberto por céu azul e por areias de sol colorido e por água-mar em espuma branca de beijos entrelaçados de amêndoa doce salgada.

Em tempos tinha sido um campo de cravos vermelhos, cujos trajes de enfeitar eram agora capas de medo escuro, cobertas de silêncio atroz.

Em tempos tinha sido um prado de esguios pinhais, onde os lenhadores de então eram agora madeireiros, apenas de corta e morre.

Tinha sido em tempos a partida de navios destemidos e de naus aventureiras e de caravelas bolinadas, cujas velas arreadas eram agora o desnorte de um sul estridente sem estrela polar.

Um “Canteiro agreste” onde os vadios da desesperança e os parasitas dos sentimentos e os profetas do restelo eram velhos desdentados em sorrisos embruxados de maldições disfarçadas por rigores suspeitados em tridentes luciféricos.

Esmeralda suspirou: um suspiro é um lamento de ansiedade, é um pedido de socorro, é um grito de alerta está, é um arrependimento tardio, um sentimento de frustração e um murro dado no vento numa anunciação desventurada.

Esmeralda viu-se ao espelho: apenas aquela cor clara e brilhante desmaiada de ténue azul. Queria ter visto o verde-alga, o verde-pinho, o verde-erva, o verde-verde, o verde-esperança.

Só viu verde-esmeralda.

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