O Costa, o Rapaz e o Burro
Não é que o Costa seja velho, mesmo sendo mais velho do que o rapaz, nem que o rapaz seja um miúdo, mesmo parecendo um menino grande.
Até ao dia quatro de Outubro do ano da graça do senhor de dois mil e quinze, ou mais ou menos, o Costa (O Velho) era acusado à esquerda e à direita de contribuir (em proporção igual à do partido que dirige), para a situação “pessimamente má” que o país atravessa e pediam inovação (soluções novas) para equilibrar a carga do Burro (o Burro é o povo Português, onde me incluo, obviamente): uns porque sim, outros porque sim e os restantes porque também.
Recordemo-nos (apenas os esquecidos, claro) de que quem mais ajudou o rapaz a tocar o Burro foram, precisamente, os “justiceiros” que se sentam à esquerda do "pai", os quais, ao que parece, aumentam a sua capacidade de influência na mesma proporcionalidade da carga e açoites que o Burro leva, seja quem for que bata no animal. O que “eles” querem é que o Burro seja cada vez mais burro (eles são todos eles e não apenas eles) para aparecerem, cada vez mais, como protectores dos animais.
Por outro lado, ao rapaz e ao seu grupo do berlinde, tanto se lhes dá como se lhes deu, quanto a quem os ajudou a sentar o traseiro no lombo da besta (a besta também somos nós, eu pelo menos) que querem continuar a montar nem que, desta vez, tenham de ir ao beija-mão daquele que parece ser, por agora, o tratador do bicho.
Portanto, o Costa das não medidas e das não propostas, a partir do momento em que as quantificou e exemplificou, logo ouviu ralhar dos mesmos sábios que, à beira do caminho, tanto insultam o Velho (o velho é outra vez o Costa) por ir descalço como o desdenham por calçar botas da tropa. Tal como o imberbe de calções de meia perna que, ainda montado no jumento, já está com inveja da ração que o Velho lhe quer dar.
Fazendo ou deixando por fazer, tombando para um lado ou tombando para o outro, usando GPS, bússola ou carta topográfica, o Costa tanto é “preso por ter cão, como por não ter” (mesmo tratando-se de um burro neste contexto), e se não tem, tivesse: À esquerda é de menos e à direita é de mais: devem ir todos a pé (desde que tenham transporte) e devem ir todos montados (desde que o façam a pé), porque o Burro até já tem um "santo" protector.
Por sua vez, para os inteligentes e sábios que sabem muito (alguns chamam-lhes mesmo comentadores), nem os dois a pé nem os dois em cima da besta porque o Burro já é velho, o velho já não é novo e o rapaz ainda não é homem mas já está espigado em envergadura suficiente que chegue para enfim e tal e por aquilo que se pode concluir e depois a Europa e o Euro e o Tratado enfim essas coisas e é só fazer as contas (esta das contas foi um bocadinho mazinha).
Tal como a conclusão a que o Velho (o verdadeiro) chegou, “a cada cabeça sua sentença”; ao Costa (o outro Velho) só lhe resta encontrar nos livros da sabedoria de uma biblioteca rica em conhecimento estratégico, táctico e político, as especiarias que o protejam da chuva de setas anunciadas...
...Sejam quem forem os índios!
António J. Branco, In, Crónicas do Meu País