O Sistema Central (A Sala do Computador)
Na década de Oitenta, um grupo de militares, constituído por seis sargentos do Quadro Permanente – Serviço Geral do Exército e Serviço de Administração Militar –, foi nomeado, após aceitação de convite, para frequentar o Curso de Operadores de Dados, na Base da Informática do Exército. O curso, por razões técnicas e operacionais, era um pouco “liberal” e baseava-se em autoestudo, através da leitura de vários manuais “obesos” e pesados, fornecidos pela IBM, empresa fabricante do Sistema Central – também conhecido por Mainframe, que é uma designação muito mais pomposa. Sempre que necessário, recorria-se ao apoio de pessoal especializado, quer da IBM, quer do efectivo colocado na Base, para darem uma ajuda no entendimento das “bíblias”.
Após o tempo entendido como necessário para a autoformação, o grupo foi convidado a, finalmente, fazer uma visita ao centro nevrálgico da máquina que constituía o Sistema Central – a famosa Sala do Computador. Era uma sala enorme, cheia de armários metálicos, de vários tamanhos, cores e feitios, alinhados lado a lado ou frente afrente, conforme o requinte do arrumador ou as razões técnicas subjacentes, ninguém explicou porque é que estavam dispostos daquela maneira e não de outra qualquer.
Curiosos e muito interessados, seguiram atrás do guia, um tenente-coronel que parecia saber do que falava e que os conduzia com segurança, explicando cada área, cada canto e a função de “cada armário”.
Ao aproximarem-se de uma zona com quatro armários tão alinhados como os outros mas com a particularidade de serem mais barulhentos e com mais luzes "pisca-pisca", um dos do grupo ficou fascinado e parou durante algum tempo a admirar o conjunto de luzes, lâmpadas, cores, brilhos tons e afins, que emanavam de um dos armários, do conjunto formado por quatro. Sábio, e com vontade de mostrar conhecimento, como quem acabara de fazer uma importante descoberta, disse: “Ah, finalmente, isto é que é a famosa CPU do Sistema central”. “Não pá”, disse o tenente-coronel que os conduzia e que sabia muito daquilo, “Isso é apenas o painel da unidade de comando do ar condicionado”.
António J. Branco, In, Fomos o Futuro (projecto).
(Texto adaptado a partir de uma narração original de Carlos Nunes)